Passados mais de dez dias da tragédia de Brumadinho, a funcionária da Vale Ana Paula da Silva Mota ainda se sente abalada. No momento d...
Passados mais de dez dias da tragédia de Brumadinho, a funcionária da Vale Ana Paula da Silva Mota ainda se sente abalada.
No momento do rompimento, ela estava no trecho final de uma estrada de terra que ia desde a área de extração de minério, no alto, até o terminal de carregamento do trem, na parte mais baixa do complexo mineiro, muito próxima da barragem.
Ana Paula estava dirigindo o gigantesco Fora de Estrada 777, veículo usado para transportar minério, com cinco metros de altura e 11 de comprimento. Na caçamba, havia 91 toneladas de minério. O material seria despejado nos vagões do trem.
– Em um primeiro momento achei que era uma detonação na mina. A gente (os funcionários) achava que essa barragem estava seca. Olhando de cima, parecia um campo de futebol, firme, duro, não tinha esse lamaçal. Ninguém imaginava que estava assim por dentro – conta a colaboradora da Vale à BBC News.
Mesmo assim, ela disse que não demorou a perceber que se tratava de um rompimento.
– Quando caiu a ficha, peguei o rádio transmissor (do veículo) e comecei a gritar desesperada: “corre, foge, a barragem estourou”. Quem estava naquela faixa (de rádio) me escutou gritando. Depois, fiquei sabendo que teve gente que escapou porque ouviu uma mulher chorar e gritar no rádio. Era eu – relata.
Mas a própria fuga de Ana Paula não foi fácil. A frente do seu caminhão estava virada para a direção oposta à rota de fuga. Manobrar o veículo seria impossível – a estrada era muito estreita, o automóvel enorme, e não haveria tempo suficiente.
– Então, eu pensei: vou dar ré. Só que era uma subida e o caminhão estava cheio de minério. Eu achava que não ia subir de ré, mas era minha única opção. Então, fui dando ré e pedindo a Deus para me salvar. Eu dava ré e a lama ia chegando mais perto. Foi Deus que colocou a mão atrás do caminhão e puxou.
Ela percorreu cerca de 150 metros de ré, de frente para a barragem, vendo a destruição sendo causada pela “onda de lama”. Foi quando ela chegou ao entroncamento da estrada que conseguiu manobrar e fugir dali.
– Se eu tivesse entrado em choque, paralisado, como aconteceu com muita gente, não teria saído dali. Eu acho que foi Deus que deixou minha cabeça boa para fazer o que eu fiz – acredita.
Agora ela diz que, apesar do trauma, se mantém forte pelos filhos.

– Meu psicológico está abalado, mas tenho que ter força pelos meus filhos.
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